Em Abril

Em Abril
Fiz-me mil
Mil palavras gritadas
Mil imagens passadas
Numa fantasia febril

Em Abril
Foram mil
Os contos que contei
Os dias que passei
Num sabor juvenil

Em Abril ri
Em Abril me despi
Liberdade, diziam
Por ser verdade
Em Abril vivi!

Em Abril corri
Por tantas ruas
Com ideias tuas
Acordei e dormi
Em muitas luas

Em Abril acreditei
Em Abril acredito
Mesmo quando hesito
E me arrepio
Num Abril vazio...!


Em Abril
2004

Domingo...

Seurat

Naquele “pic-nic” de burguesas,

Houve uma coisa simplesmente bela,

E que, sem ter história nem grandezas,

Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher, sem imposturas tolas,

A um granzoal azul de grão de bico

Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,

Nós acampámos, indo o sol se via;

E houve talhadas de melão, damascos

E pão de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda

Dos teus dois seios como duas rolas,

Era o supremo encanto da merenda

O ramalhete rubro das papoulas!

Cesário Verde

Ecce Homo

Ecce Homo