florestas

Floresta dos plátanos, choupos, freixos, faias, salgueiros, olmos, oliveiras, castanheiros, carvalhos, sobreiros, azinheiras, pinheiros bravos e mansos....
Um blog para seres da floresta, do deserto, dos grandes mares, das planícies, das montanhas, dos rios, das rias, das cidades... não acessível a tias!

segunda-feira, maio 29, 2006

Oberon-Titania and Puck with Fairies Dancing
William Blake



Baladas de uma outra terra

Baladas de uma outra terra, aliadas

Às saudades das fadas, amadas por gnomos idos,
Retinem lívidas ainda aos ouvidos
Dos luares das altas noites aladas...
Pelos canais barcas erradas
Segredam-se rumos descridos...

E tresloucadas ou casadas com o som das baladas,
As fadas são belas e as estrelas
São delas... Ei-las alheadas...

E são fumos os rumos das barcas sonhadas,
Nos canais fatais iguais de erradas,
As barcas parcas das fadas,
Das fadas aladas e hiemais
E caladas...

Toadas afastadas, irreais, de baladas...
Ais...

Fernando Pessoa

sábado, maio 27, 2006




















Uma voz na pedra

Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.


António Ramos Rosa

quinta-feira, maio 25, 2006


Amando Sobre os Jornais

Amando noites afora
Fazendo a cama sobre os jornais
Um pouco jogados fora
Um pouco sábios demais
Esparramados no mundo
Molhamos o mundo com delícias
As nossas peles retintas
De notícias

Amando noites a fio
Tramando coisas sobre os jornais
Fazendo entornar um rio
E arder os canaviais
Das páginas flageladas
Sorrimos, mãos dadas e, inocentes
Lavamos os nossos sexos
Nas enchentes


Amando noites a fundo
Tendo jornais como cobertor
Podendo abalar o mundo
No embalo do nosso amor
No ardor de tantos abraços
Caíram palácios
Ruiu um império
Os nossos
De mistério

Chico Buarque



















Gare de Saint-Lazare

Claude Monet


Trem das onze

Não posso ficar
Nem mais um minuto com você
Sinto muito amor
Mas não pode ser
Moro em Jaçanã
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã
Além disso mulher

Tem outra coisa
Minha mãe não dorme
Enquanto eu não chegar
Sou filho único
Tenho minha casa pra olhar

Adorinan Barbosa

quarta-feira, maio 24, 2006


Porque os barqueiros tinham ido almoçar....

uma fotografia

Penélope

Mais do que um sonho: comoção!
Sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.

E recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.

Mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.

David Mourão-Ferreira

terça-feira, maio 23, 2006

As Tentações de Santo Antão
O que está lá atrás
Prisão de Cristo no Horto
Cristo a Caminho do Calvário
Hieronymus Bosch
MNAA

segunda-feira, maio 22, 2006

Arco-Iris


Quisera Adormecer

Quisera adormecer
como a criança acorda,
à beira de outro tempo, que é o nosso.

Só quero o que não posso.

Jorge de Sena

sábado, maio 20, 2006

Feira da Ladra na Praça da Alegria
Nicolas Delerive


É Terça-feira

É terça-feira

e a feira da ladra
abre hoje às cinco
da madrugada

E a rapariga
desce a escada quatro a quatro
vai vender mágoas
ao desbarato
vai vender juras falsas
amarguras ilusões
trapos e cacos e contradições

É terça-feira
e das cinzas talvez
amanhã que é quarta-feira
haja fogo outra vez
o coração
é incapaz
de dizer
"tanto faz"
parte p'ra guerra
com os olhos na paz

É terça-feira
e a feira da ladra
quase transborda
de abarrotada

E a rapariga
vende tudo o que trazia
troca a tristeza
pela alegria

E todos querem
regateiam
amarguras
ilusões
trapos e cacos e contradições

É terça-feira
e das cinzas talvez
amanhã que é quarta-feira
haja fogo outra vez
o coração
é incapaz
de dizer
"tanto faz"
parte p'ra guerra

com os olhos na paz

É terça-feira
e a feira da ladra
fica enfim quieta
e abandonada
e a rapariga
deixou no chão um lamento
que se ergue e gira
e roda com o vento
e rodopia
e navega
e joga à cabra-cega
é de nós todos
e a ninguém se entrega

É terça-feira
e das cinzas talvez
amanhã que é quarta-feira
haja fogo outra vez
o coração
é incapaz
de dizer
"tanto faz"
parte p'ra guerra
com os olhos na paz

Sérgio Godinho

Ondas, diz f...

As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim

Sophia de Mello Breyner Andressen

Palavras belas escolhidas por f...

Vem aí o fim-de-semana! Vamos a banhos...?


Praia de Banhos

Marques de Oliveira

sexta-feira, maio 19, 2006



Seu Corpo

No seu corpo é que eu encontro
Depois do amor o descanso
E essa paz infinita
No seu corpo minhas mãos
Se deslizam e se firmam
Numa curva mais bonita
No seu corpo meu momento é mais perfeito
E eu sinto no seu peito o meu coração bater
E no meio desse abraço é que eu me amasso
E me entrego pra você
E continua a viagem
No meio dessa paisagem onde tudo me fascina
E me deixo ser levado
Por um caminho encantado
Que a natureza me ensina
E embora eu já conheça bem os seus caminhos
Me envolvo e sou tragado pelos seus carinhos
E só me encontro se me perco no seu corpo

- na voz de Bethânia

Palavras de Longe demais que ficam muito bem nesta floresta!
Duas figuras

Amadeo de Souza-Cardoso

quinta-feira, maio 18, 2006

Seated Nude
Modigliani


A Noiva da Cidade

"Tutu-Marambá não venha mais cá
Que a mãe da criança te manda matar"
"Tutu-Marambá não venha mais cá
Que a mãe da criança te manda matar"

Ai, como essa moça é descuidada
Com a janela escancarada
Quer dormir impunemente
Ou será que a moça lá no alto
Não escuta o sobressalto
Do coração da gente

Ai, quanto descuido o dessa moça
Que papai tá lá na roça
E mamãe foi passear
E todo marmanjo da cidade
Quer entrar
Nos versos da cantiga de ninar
Pra ser um Tutu-Marambá

Ai, como essa moça é distraída
Sabe lá se está vestida
Ou se dorme transparente
Ela sabe muito bem que quando adormece
Está roubando
O sono de outra gente

Ai, quanta maldade a dessa moça
E, que aqui ninguém nos ouça
Ela sabe enfeitiçar
Pois todo malandro da cidade
Quer entrar
Nos sonhos que ela gosta de sonhar
E ser um Tutu-Marambá

"Boi, boi, boi, boi da cara preta
Pega essa menina que tem medo de careta"

Francis Hime - Chico Buarque

The Journey Across the Styx (Heaven and Hell)
Joachim Patinir

quarta-feira, maio 17, 2006

Um branco narciso
e um branco biombo se reflectem
na sala quieta

Matsuo Bashô
Nude with Cat
Balthus

segunda-feira, maio 15, 2006

O Beijo
Gustav Klimt
Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill

Alguém Longe demais me fez lembrar deste poeta
Nevrose Nocturna
/
- Bela! dizia eu, como um navio à vela,
para um país polar, por um silêncio amigo.
Bela! como uma estátua e gélida como ela.
- Bela! dizia eu, como um sepulcro antigo.
/
- Bela! dizia eu, ágil como um jaguar,
assim me inspire o Fado e Satanás me deixe!
- Bela! dizia eu, fria como o luar
sobre o dorso luzente e excepcional dum peixe.
/
- Bela! dizia eu, como uma mesa lauta
para um festim pagão: a Forma, o Som, e a Cor.
- Bela! dizia eu, como nocturna flauta,
desafiando, no mar, a ladainha - Dor.
(...)
/
Gomes Leal

domingo, maio 14, 2006

Porque hoje é domingo

Cristo Morto
Andrea Mantegna

sábado, maio 13, 2006

La Toilette
Toulouse-Lautrec
La Baigneuse, dite de Valpinçon
Ingres
A Mulher-Libélula
René Lalique

quinta-feira, maio 11, 2006

Les Dormeuses


Gustav Courbet

quarta-feira, maio 10, 2006

Os Teus Pés

Quando não te posso contemplar
Contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
Teus pequenos pés duros,

Eu sei que te sustentam
E que teu doce peso
Sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
A duplicada purpura
Dos teus mamilos,
A caixa dos teus olhos
Que há pouco levantaram voo,
A larga boca de fruta,
Tua rubra cabeleira,
Pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem.

Pablo Neruda

terça-feira, maio 09, 2006

SCP


W d'Alter tem produzido muita literatura de cordel (expressão injusta para o cordel) e é notório que tem um problema de aerofagia que não é passível de ser tratado (a não ser com uns valentes murraços na boca do estômago que lhe façam saltar a placa para a beirinha da janela do gabinete).
O arroto tornou-se um caso comum nas instalações da SCP (Sociedade Castigadora de Professores) mas também um tema tabu: ninguém pode dizer que W d'Alter arrotou ou mesmo que fez uns rabiscos e umas merdas com as mãos.
O que é certo, contudo, é que o arroto e o rabiscanço se tornaram uma "boa prática" lá para aqueles lados, e constituem a essência da coisa educativa. Cada arroto ou rabisco significa um monte de trampa e é um sinal de alarme para os professores que vêem nos ditos o aviso "aos abrigos".
Mas não parece que a coisa vá mudar pelo que se sugere aqui uma mudança estratégica que consiste em dar um uso mais útil a alguns objectos do quotidiano. Rolha XL na cavidade bucal de W d' Alter (implica tirar-lhe a placa), corda de sisal nas manitas do bicho (atrás das costas), tesoura no cinto das calcitas de modo a que caiam pelos tornozelos.
Será então interessante vê-lo aos pulinhos pelos corredores da SCP a emitir sons que não se entendem (não que os que emite agora se entendam), qualquer coisa assim: " fo, fo um, um, po, po, po, ca, ca", que no seu brilhante pensamento reformador significa " foi um pofessor, caraças".
A isto, o auxiliar de acção reformadora que o encontrar poderá sempre responder: Porra, pá, quem és tu? Vens para aqui com merdas e frescuras! Vai mas é trabalhar!

A tempestade

Giorgione

Pequeno Poema

Quando eu nasci,

ficou tudo como estava,

Nem homens cortaram veias,

nem o Sol escureceu,

nem houve Estrelas a mais...

Somente,

esquecida das dores,

a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,

não houve nada de novo

senão eu.

As nuvens não se espantaram,

não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme,

bastava

toda a ternura que olhava

nos olhos de minha Mãe...

Sebastião da Gama

segunda-feira, maio 08, 2006

Floresta de ....
Faias

Gustav Klimt

domingo, maio 07, 2006

Em Arles e na Orelha de Van Gogh

Noite Estrelada

Esplanada de Café na Praça do Forum


Rosie

Eu, Rosie, eu se falasse eu dir-te-ia

Que partout, everywhere, em toda a parte,

A vida égale, idêntica, the same,

É sempre um esforço inútil,

Um voo cego a nada.

Mas dancemos; dancemos

Já que temos

A valsa começada

E o Nada

Deve acabar-se também,

Como todas as coisas.

Tu pensas

Nas vantagens imensas

De um par

Que paga sem falar;

Eu, nauseado e grogue,

Eu penso, vê lá bem,

Em Arles e na orelha de Van Gogh...

E assim entre o que eu penso e o que tu sentes

A ponte que nos une - é estar ausentes.

Reinaldo Ferreira

Heitor e Andrómaca


Giorgio di Chirico

sábado, maio 06, 2006

sexta-feira, maio 05, 2006

Sobre pintura, pintores e coisas belas


Henri de Toulouse-Lautrec par lui-même

terça-feira, maio 02, 2006

Não, não é um retrato de Milu reclinada esperando pelas melhorias na educação


É mesmo um nu de Modigliani! Belíssimo!
A bem da Educação!
A maior desgraça que pode acontecer a um artista é começar pela literatura, em vez de começar pela vida.
Miguel Torga

procure outras florestas, outras árvores, não hesite...