florestas

Floresta dos plátanos, choupos, freixos, faias, salgueiros, olmos, oliveiras, castanheiros, carvalhos, sobreiros, azinheiras, pinheiros bravos e mansos....
Um blog para seres da floresta, do deserto, dos grandes mares, das planícies, das montanhas, dos rios, das rias, das cidades... não acessível a tias!

quinta-feira, junho 29, 2006




















Impressão digital

Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandescente.
Inútil seguir vizinhos,
que ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.


António Gedeão

sexta-feira, junho 16, 2006














Carlos Botelho


Maria Lisboa

É varina, usa chinela,
Tem movimentos de gata;
Na canastra, a caravela,
No coração, a fragata.

Em vez de corvos no xaile,
Gaivotas vêm pousar.
Quando o vento a leva ao baile,
Baila no baile com o mar.

É de conchas o vestido,
Tem algas na cabeleira,
E nas veias o latido
Do motor duma traineira.

Vende sonho e maresia,
Tempestades apregoa.
Seu nome próprio: Maria.
Seu apelido: Lisboa.

David Mourão-Ferreira

terça-feira, junho 13, 2006

Homenagem aos Professores de Portugal

Poeta castrado, não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!
Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.
Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:
Da fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?
Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?
E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!
Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Ary dos Santos

quarta-feira, junho 07, 2006

Robert Delaunay

















Nude Women Reading

sexta-feira, junho 02, 2006

Maravilha

Maravilha
Ilha de luz
Quero tua cor mulata
A tua verde mata
Os teus mares azuis
Maravilha
Também quero o teu bagaço
A força do teu braço
O afago dos teus calos
Quero teus regalos
Encharcados de suor
Antilha
Ilha de amor
Jura que a felicidade
É mais que uma vontade
É mais que uma quimera
Ai, eu quero uma lembrança
Eu quero uma esperança
A tua primavera
Ai, eu quero um teu pedaço
Entorna o teu melaço
Sobre a minha terra

Francis Hime – Chico Buarque


Le Moulin de La Galette
Renoir

quinta-feira, junho 01, 2006


Red Boat with a Blue Sail


Odilon Redon

A maior desgraça que pode acontecer a um artista é começar pela literatura, em vez de começar pela vida.
Miguel Torga

procure outras florestas, outras árvores, não hesite...