A crise não pára (com acento) de nos atormentar. É preciso medidas, talvez mesmo uma revisão profunda do sistema métrico, e o novo governo já tomou algumas em troika de opiniões que teve hoje à tarde com os chefes da Troca. Decidiu-se, a bem da poupança, proceder a uma nova revisão do acordo ortográfico. A partir de hoje e, mais particularmente, deste momento, tudo se escreve em letras minúsculas e sem acentos, razão pela qual vou agora mesmo proceder à alteração necessária. um estudo recente de uma universidade ligada a uma agencia de rating comprovou que a utilizaçao de maiusculas e acentos provoca incomensuraveis gastos de tinteiros nas impressoras das empresas. uma maiuscula, refere o estudo, equivale, em tinta, a tres minusculas e um acento tem um gasto equivalente a uma minuscula e meia, acrescido do esforço suplementar que e preciso para o por la em cima. pretende-se que a poupança decorrente desta alteracao possa ser suficiente para manter os ordenados dos portugueses ao nivel dos trabalhadores agricolas do alentejo em 1947. uma vitoria negocial, segundo os responsaveis nacionais e um claro indicador do rigor e da honestidade e da honra dos governantes portugueses, segundo os dirigentes troicados.
o ministerio da educacao saudou de forma energica esta alteraçao e foi mesmo mais longe, dando instruçoes as escolas para que se processem alteraçoes igualmente nas publicaçoes de natureza mais grafica que os alunos produzem. assim foram proibidos os desenhos de animais maiores que a abelha (excepcao feita apenas para os animais dos três clubes maiores). nao existira mais cao como o melhor amigo do homem, nem cavalos, nem bois, mesmo de raça barrossa. a partir de hoje, os alunos poderao e deverao desenhar cigarras, joaninhas, formiguitas e aranhas pequeninas, sendo que as impressoes deverao ser feitas em tamanho natural – a formiga trabalhadeira nunca devera ser impressa do tamanho de um carneiro (por exemplo).
no acordo firmado com a truca ficou de fora a cedilha, sendo no entanto de prever que ela propria venha a cair no decurso ja das negociaçoes que estao previstas para o meio do verao. os portugueses sabem que a modernidade os espera e que a tradicao ja nao e o que era, isto agora e uma animacao, mesmo na extrema uncao.
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