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Floresta dos plátanos, choupos, freixos, faias, salgueiros, olmos, oliveiras, castanheiros, carvalhos, sobreiros, azinheiras, pinheiros bravos e mansos....
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terça-feira, novembro 07, 2006

PFP sobre o ECD - Perguntas frequentemente perguntadas sobre o ECD


O que é o ECD?

O ECD é um estatuto de uma carreira, supostamente docente.

Para que serve um estatuto de uma carreira?

Para organizar a carreira, definir funções, adequar a prática profissional dos docentes a ideias que estruturam a educação.

Que ideias são essas?

O Ministério não sabe!. O Ministério diz tê-las, mas não é seguro em que departamento estarão guardadas.

Quem pode apresentar essas ideias?

Toda a gente, mas têm sido privilegiados os comentadores televisivos, os economistas reformados e simultaneamente no activo, os reformadores moralizantes da vida pública, com ordenados, privilégios e benesses pessoais chocantes em termos sociais.

As pessoas "preocupadas com o futuro do país" podem apresentar as suas ideias?

Podem, desde que sejam comentadoreiros de imagem reconhecida, assessores de alguma empresa com subsídios comunitários, membros do governo, economistas em geral, sobretudo os que afirmam não ter responsabilidades no estado da nação.

Os profissionais do sector também podem apresentar propostas?

Podem, desde que o façam baixinho e de preferência caladinhos.

Existem medidas significativas para a educação no ECD?

Existem várias medidas muito significativas que se centram em dois temas fundamentais: reduzir e aumentar.

Reduzir e aumentar??? Isso não é contraditório?

Não! Nada!
Reduzir professores, reduzir o número de contratados (para o ME não são professores) reduzir a possibilidade de ter carreira, reduzir a progressão na mesma, reduzir salários, reduzir direitos elementares como o de estar doente, reduzir o tempo de preparação de aulas, reduzir o tempo para os professores se actualizarem, reduzir o tempo para concertarem estratégias e procedimentos, reduzir a possibilidade de ser bom professor, reduzir a imagem do professor à imagem de pária social, reduzir o papel do professor na escola que passa a ser um faz-tudo baratinho, reduzir os professores a executantes de medidas a metro com a lógica do milímetro, reduzir o estatuto e o prestígio dos professores (afinal eles são os pais e as mães dos males da escola) reduzir a despesa/investimento na educação a um nível digamos…. muito reduzido.

Então o que é que vai aumentar??

Aumenta o trabalho com menos salário, aumentam as horas lectivas disfarçadas de actividades educativas, aumenta a idade da reforma, aumenta o número de desempregados, aumentam os despedimentos, aumenta a não contratação de docentes, aumenta o trabalho escravo que permite isto tudo, aumenta a quantidade de tarefas exigidas aos professores, aumenta o disparate na avaliação dos docentes (aberta a tios, primas e outros familiares em quarto grau) aumenta a impossibilidade de se ser excelente dada a multiplicidade de tarefas diferentes exigidas, aumenta a falta de tempo de preparação para isso tudo, aumenta a exigência de excelência com condições de demência, aumenta a tentativa de levar à prática o adágio “querer ópera séria pelo preço da ópera bufa”, aumenta a impossibilidade de progressão na carreira, aumenta a manutenção de muitos dos professores em condições salariais de saldo, aumenta o desprestígio da profissão (essa a intenção), aumenta a escola dos desmotivados e paralisados, aumenta o nível de loucura para um nível… aumentado.

E não se cria nada de novo?

Sim, seguramente! Cria-se poupança imediata e irracional, cria-se a breve trecho a escola pública manhosa, onde ninguém quererá leccionar, cria-se um sistema de precariedade onde ninguém quererá estar…

Ainda há quem queira ser professor??

Sim há! Os excelentes professores que estão no ensino e que já eram professores antes de a ministra ser ministra, e que continuam a ser professores enquanto a ministra continua surda, arrogante e prepotente.

Mas a educação não é importante para o país?

É muito importante, até os responsáveis dizem o mesmo, mas fazem tudo para que não seja, e desconsideram os seus profissionais para que a sua profissão seja subvalorizada.

Isso não é um paradoxo? O que é um paradoxo?
Um paradoxo é tudo isto…!
E é apenas isto?
Não!! Também é ter uma ministra da educação que a não tem!

2 comentários:

Maria Lisboa disse...

Um blá blá blá extraordinário!

As respostas mais correctas e mais verdadeiras às questões mais pertinentes sobre a identidade deste documento.

Estás de parabéns!!!

:)
Beijo

IC disse...

Um texto excelente, e também delicioso [adorei a última característica do paradoxo ;)]

E parabéns também pelos dois posts anteriores, que ainda não tinha lido. :)

A maior desgraça que pode acontecer a um artista é começar pela literatura, em vez de começar pela vida.
Miguel Torga

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