florestas

Floresta dos plátanos, choupos, freixos, faias, salgueiros, olmos, oliveiras, castanheiros, carvalhos, sobreiros, azinheiras, pinheiros bravos e mansos....
Um blog para seres da floresta, do deserto, dos grandes mares, das planícies, das montanhas, dos rios, das rias, das cidades... não acessível a tias!

sábado, janeiro 13, 2007

Avaliação

Depois de ter sido proletarizado, desconsiderado, achincalhado e impedido de ser melhor, depois de ter sentido tudo isto como uma enorme afronta, depois de ter reagido a quente, dou comigo a pensar que também queria ser avaliado por todo o meu percurso como professor, por tudo o que dei a um sistema, agora nas mãos de uma megera incapaz de reconhecer o mérito nem que ele se sentasse em cima dela...
Lirismos de quem não tem nada para fazer à 1 da manhã, ou ideias muito básicas de quem não devaneia por teorias, ou já está farto delas (teorias e megeras). E de práticas voluntaristas!
Chateia-me, aborrece-me mesmo, a falta de tempo para ser professor, a falta de tempo para pensar as coisas, a falta de tempo para inovar, para ser criativo na minha profissão.
Funcionalizado que fui, resta-me tempo para cumprir os procedimentos, alguns, pelo menos, para tratar da papelada que mostra estatisticamente que funciono dentro dos parâmetros definidos por lei, que não sou um revolucionário sem sentido... Resta-me tempo para produzir documentos que ninguém lê, numa linguagem que ninguém entende, para cumprir objectivos em que, apesar de ser actor da coisa, ninguém se revê...
Dito isto, ou desabafado isto, quero muito ser avaliado pela felicidade que provoco, pelos abraços que recebo nos recreios, pelo teatro que faço da História, pelos beijinhos que me dão, pelo sorriso que a conquista de Lisboa aos Mouros provoca, pela curiosidade que desponto, pelo prazer que tenho ao ver um teste excelente, pelo imenso prazer silencioso que retiro das dificuldades suplantadas, pela ironia fina que permito e incentivo, pela ingenuidade dos alunos que acham que professor assim não há, pelo prazer que sinto em dar aulas de história, pelo prazer que eles sentem nas aulas de história, por eles adivinharem que a história é a vida das pessoas, por eles não se enganarem nas respostas para a TVI, ou por eles se enganarem e eu ter a possibilidade de os corrigir, de voltar a explicar...
Quero mesmo ser avaliado, mas também quero que me deixem progredir, não quero ser avaliado com items que, à partida, servem para impedir a avaliação.
De que me serve a avaliação? Para que serve? Para nada!
Sabemos hoje, exactamente, que seremos avaliados para não progredir na carreira!
Então para quê o esforço????
Para nada!
Ficamos à espera que os velhotes do ensino se reformem, não para progredir, mas tão só para ver quem passa recibos verdes, neste ensino público de qualidade.
Ou será que há amigos para quem o negócio da educação é muito rentável??
Se tornarmos tudo muito mau e precário, é natural que os amigos dos colégios ganhem algum ascendente....
E nós, professores incautos, nem percebemos nada...!

1 comentário:

Maria Lisboa disse...

Avaliar, tem origem na palavra latina “valia” (valer, valor – ambas com a mesma raiz), tendo, no entanto, sido “importada” através do galicismo “aval” . Quer isto dizer que com o acto de avaliar se pretende atribuir uma valia a, um valor a…
Claro que para se avaliar, para se atribuir um valor a, tem que se saber algo sobre o que se vai avaliar, tem que se ter a mínima noção sobre os actores em cena, sobre os contextos e as variáveis, sobre as tarefas e os produtos, etc.
Há muita coisa que eu não sei avaliar… sei (ou posso) tecer considerações sobre… sei falar das minhas expectativas sobre… sei dizer se concordo ou não com… mas não posso avaliar porque não “vivo” dentro dos parâmetros a avaliar. É isto que acontece com esta gentinha… não sabe minimamente sobre o que fala por isso não pode saber sobre o que avalia.
Subiram, nitidamente, “acima da sua chinela”! E isto diz tudo.
Eles nunca viram, nunca sentiram, nunca sonharam,. abraços, beijos, olhares de crianças que descobrem. Eles conhecem e manipulam números em papéis e por isso nos pedem papéis… eles conhecem as palavras que usam em circulares, despachos e outros que tais e que colocam em papéis, por isso nos pedem papéis… Eles não querem professores (e outros funcionários) empenhados (no trabalho)… eles querem o povo empenhado (no “prego”, claro!). É tão mais fácil usá-lo se tiver perdido o riso, o sonho, o prazer…


Ah! O esforço!... É com isso que eles contam…. Com o nosso esforço! Mas esquecem-se que esses esforço vai perder-se porque estão a educar gente para não perceber o sorriso, o prazer e o sonho. No dia em que isso deixar de existir no trabalho… no dia em que isso deixar de existir no ensino, deixará de haver esforço. Poderá continuar a haver trabalho… mas desse tipo as máquinas fazem-no melhor…




PS: Esta gentinha é formada no tipo de “coisas” que vêm nestas páginas:

http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=%22sociologia+da+educa%C3%A7%C3%A3o%22&meta=

http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=%22sociologia+da+gest%C3%A3o%22&meta=

http://www.fcsh.unl.pt/bolonha/UC/Gestao_Recursos_Humanos.pdf - repara no ponto 4.5 desta página… não te faz lembrar o torrão de açúcar do cavalo?

A maior desgraça que pode acontecer a um artista é começar pela literatura, em vez de começar pela vida.
Miguel Torga

procure outras florestas, outras árvores, não hesite...